Sofia Costa Pinto, designer e anterior presidente da Ensaios & Diálogos Associação (com mandato entretanto terminado), explica que agora que as turmas regressaram às aulas presenciais vai ser possível iniciar a próxima fase do projeto. A ela, juntam-se Madalena Pornaro (arquiteta da EDA) e uma equipa de mulheres arquitetas da A-GRUPA que conta com Letícia Carmo, Ana Louback e Gabriela Antunes. A ideia é que esta equipa esteja presente para orientar algumas atividades, mostrar aos alunos como podem utilizar a Ágora da melhor forma e ajudá-los a avançar com as suas ideias para o terreno, ensinando-lhes como usar as ferramentas e técnicas necessárias.
As bandeiras da juventude
Nas primeiras sessões abertas à discussão de ideias para decorar o espaço, logo se fez sentir a vontade que os alunos têm de estar naquele espaço e de o tornar ‘seu’, como é objetivo final do projeto. Bandeiras LGBT+, bandeiras Black Lives Matter, uma rampa em madeira para facilitar o acesso à Ágora e canteiros com flores que estarão ao cuidado de todos. “Foram estes os pedidos deles e é nisto que vamos começar a trabalhar, com a ajuda de todos”, conta Sofia.
Tal como no campo de futebol, aqui também se trabalha em equipa. Durante as sessões na Ágora, a turma divide-se, consoante os horários das aulas de Educação Visual e TIC. E nem essa divisão esconde o espírito de entreajuda e amizade que se sente entre os alunos.
Uns trazem música, outros dançam, falam e assim que acabam de cumprimentar as arquitetas, logo perguntam: “o que é que vamos fazer hoje?” Sempre com a energia evidente nos movimentos irrequietos de um lado para o outro ou da mudança constante de lugar, quando se sentam nos bancos dentro da Ágora.
Entretanto, a ação começa. Num canto do pátio, alguns alunos colocam a terra e as sementes nos canteiros que vão decorar a ágora. No outro, ajudam Sofia a colocar uma lona de proteção para a chuva. Os restantes vão trazendo as tábuas de madeira e as ferramentas com que vão construir a rampa de acesso.
“Vamos ser só nós?”, pergunta um dos jovens. Por sorte, a Ágora tem despertado os olhares curiosos dos restantes alunos que ali estudam. Não raras vezes, alguns aproximam-se e perguntam se é preciso ajuda. Outros preferem satisfazer apenas a curiosidade e saber o que se vai construir. A ajuda de todos é bem-vinda e até a Diretora de Turma e Professora de Educação Visual Ana Helena Baptista é convidada a juntar-se aos alunos.
O companheirismo e entreajuda são os reflexos do trabalho na Ágora que mais se têm feito notar no comportamento geral da turma, segundo Ana Helena Baptista. “Este é um espaço que pode ser de brincadeira, mas também de reuniões. Discutirem assuntos e perceberem o quão útil este espaço é para todos. Passa a ser um espaço alternativo de aula.”
É no final das atividades que se faz sentir o gosto e dedicação que os alunos têm àquele espaço. “Segunda e terça à tarde podem?”, pergunta Sofia à plateia de pés que balançam nos bancos, sem tocar no chão. “Eu posso vir todos os dias!”, responde uma das alunas. “Por mim, venho sempre!”, responde outro. “Mas podemos ficar até tarde, tipo meia-noite?”, acrescenta ainda outro jovem. A resposta deverá ter desiludido a expectativa, mas voltar podem sempre.
O que este espaço oferece aos alunos vai além de bancos de madeira e um telhado em chapa.
As pistas que ficam para o futuro
Visível a qualquer um que por aqui passe, a EB 2,3 do Alto do Lumiar tem sido palco desta vontade coletiva que junta alunos e artistas na construção de uma escola melhor. E a vontade de fazer mais tem crescido. “O Agrupamento de Escolas do Alto do Lumiar tem alunos que não se enquadram no sistema académico tradicional, mas eles não deixam de ter muitas capacidades que vão de encontro com o que nós fazemos”, descreve Sofia.